domingo, 16 de março de 2008

Aquele cara


Tem um certo cara, que escreve bem pra xuxu.
Deixa-me constrangida, de tão boa a sua escrita
Li algum texto dele, quando ia para bom jesus.

Por vez grosso que dói,
e depois romântico que só ele
jogou na minha cara ácido que corrói
depois tratou a pele com creme fresco de leite

Vi ele tempos atrás, catando jabuticaba
entre os pés de bergamoteira.
Depois sentado na calçada olhando em baixo das barras de saia
levando chingão de alguma gorda freira.

Sempre nos barzinhos
ajeitando o óculos na cara, a cada gargalhada sarcástica.
"Ei meu chapa, me passa mais uma gelada!"
Ele resolve ir embora, antes que aperte o chuvisco.

Tipo meio estranho,
as vezes quieto
observando as bundas das madames rebolando
cachimbo na mão, camisa no peito aberto.

Frequentador de banco de praça
assiduamente ali nas redondezas da minha casa.
Caneta cravada num bloco de papel...
quando cansava, deitava no banco e olhava pro céu

Ele nem é tão atraente
os dentes são meio tortos.
Certo dia perguntou-me as horas de repente
e eu arregalada: 'são 10 e dezoito'

É incrivel como tudo acaba em sexo.
Não foi nessa noite nem nessa semana
eu, ele, nós nos perseguimos de perto
e agora ele não consegue mais sair da minha cama.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Cartelas de adesivos e playstations




Dias atrás sonhei com um ex namorado da minha mãe.

Um sujeito chamado Leandro, realmente bonito apesar do cabelo levemente brega.
No pricípio minha mãe e ele trabalhavam juntos; ele adolescente de 18 anos contando de seus namoricos da época, minha mãe com 33 anos contando de seu casamento problemático.
Eu nasci e 3 anos depois o casamento estava acabado.
E eis a surpresa! O jovem rapaz juntou-se a familia para servir como um padrasto fora dos padrões.

Não tenho muitas lembranças desse tempo, apenas poucas e boas.
Ele era como um pai que se comportava como um irmão e brincava de cabana bagunçando a casa toda.
De todos os tantos presentes que ele me deu, o que mais fixou-se em minha memória, é uma cartela com adesivos de fadas. Não eram desenhos da disney tradicionais, mas desenhos quase caseiros e bem coloridos.
Foi um dos presentes mais lindos que já recebi.
E o natal mais mágico e inesquecível, foi aquele em que Leandro vestiu-se de Papai Noel e me fez cócegas na barriga. Lembro que ganhei alguma barbie com um vestido rosa rodado, uma princesa.
Recordo de uma tarde em que fui para o quarto de minha mãe e ele estava dormindo, ocupando quase toda a cama, tapado com um cobertor amarelo e marrom. Eu deitei do lado dele e pensei: "Nossa, ele é grande!"

Em agosto de 97, ele saiu do nosso apartamento, foi embora.
Disseram-me algo sobre viajar, passar um tempo longe.
No meu aniversário de 8 anos, outubro daquele ano, Lelé(como eu costumava chama-lo) trouxe-me um video-game playstation de presente. Eu tenho ele guardado no meu armário até hoje.
Eu acho que foi assim que terminou a 'nossa história', não sei o que ocorreu depois, apaguei as lembranças.

Uma mulher e um homem que se amam, recebem dedos apontados e coxixos por tras das portas e janelas. Será que 15 anos separando 2 vidas, podem acabar com o laço definitivamente entre elas?
Aos 24 anos e meio, ele saiu de nossas vidas e eu nunca mais o vi. Nunca mais.
Minha mãe adoeceu e chorou por 1 ano. E eu sei que ela faria tudo de novo. Por que uma paixão verdadeira nos faz saber que em algum momento da vida, nós fomos realmente felizes.

Alguns anos atrás ele procurou minha mãe... Que não o atendeu.
Ficamos sabendo que ele acabou casando-se e tendo 2 filhos, a mais velha, com em torno de 7 anos e o sexo e idade do filho mais novo não sabemos.
Eu imagino ele como um bom pai, ele era tão preocupado comigo(disse a minha mãe), querendo um bom futuro e uma pessoa firme brotando de mim.

Ontem a noite, 11 anos após a separação de nossas vidas, ele apita o porteiro de nosso edifício tarde na noite. minha mãe pergunta o que ele quer.
"Conversar."
Minhas mãe responde: "Eu acho melhor não."
Ele vira de costas, desliga o alarme do carro e vai embora dirigindo.

Hoje minha mãe me conta sobre o ocorrido.
Eu sento na frente dela sem acreditar que eu perdi a oportunidade de ver o rosto dele uma última vez.
Eu então choro. Envergonhadamente.
E penso... Será que ele lembra de mim ou pensa como eu estou hoje?
Como uma lembrança tão antiga pode desestruturar a minha cabeça tão frustantemente?


"Mãe, tu lembra que eu te disse que sonhei com o Lelé? Ele não saiu da minha cabeça nesses últimos dias! Ele não saia!! Por que as minhas intuições e pressentimentos nunca me ajudam?
Mãe, por que tu não falou com ele??? Eu sinto que tu precisava fazer isso."

"Eu preferi que ele lembrasse de mim como eu era a 10 anos atrás. A mulher que ele amou, vaidosa e bonita. Foi vergonha de ter envelhecido e não ter tido forças contra isso."



"Mãe, eu sinto orgulho de ti."







segunda-feira, 10 de março de 2008

óleo nas pálpebras


Eu sei que eu não sou a mesma.

Nesse momento possuo um caderno em minha frente, onde passei tempos escrevendo coisas medíocres.
E olho para o relógio cor-de-rosa na escrivaninha, não enxergo seus ponteiros.. nem sei se ele já parou por falta de troca de pilhas.
E olho para os meus tantos perfumes que nunca uso... mas alguém gosta do meu cheiro mesmo assim.

Estou meio no escuro, meia luz.
O calor do verão ainda abomina, são dois ventiladores tentando acalmar-me.

E eu não olhei nada...
Eu apenas lembrei de você bloquiando minha visão como um óleo em minhas pálpebras, ou pó sujando meus óculos.
E dói.
Dói tanto eu pensar em você o tempo todo.
A cada barulho vindo da janela rangendo ou dos vizinhos intrusos de meus momentos eu devaneio.
Eu não constumo discutir assim comigo por causa de mais ninguém.

Mas...
O arranhão que tu fizeste nas minhas costas
o hematoma em minha coxa
a boca inchada de tanto usada
o arrepio que frizou cada pêlo do meu corpo
a saliva que umidificou meus poros
a mão que passeou através dos meus sensos
as mordidas e risadas
o teu jeito de dormir curvado
cada toque
cada mílimetro de qualquer coisa que se possa pensar.

Borrou qualquer conclusão que eu pudesse chegar sobre o que existe num mundo onde antes o tudo só era cinza.