quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cegueira




As cores do reino, viajam no esplêndido

Paraíso que vem me assombrar

Enquanto é a luz que braveja

na orla do pecador que sois eu.

Nada manifesta a lucidez

que um dia a mim pertenceu.

Foi-se embora vermelho

maçã dos lábios proibidos,

chegastes tu ao infinito negror

da caverna que criastes

num sonho de realista perdedor.

Cores vãs e tão imaginárias

Que nem um cego de nascença

Pareceria em desvantagem

Na competição de descobrir o mais belo

Tudo ou nada?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Maquiagem, traquinagem.



Era criança safada
chegando perto do espelho,
toda borrada
Era maquiada a algumas horas atrás.

Ela está tão alta.
As cores de suas agressões
misturam-se ao neon de suas festas.
O batom em sua boca, não é seu.

Alguém arrasta
o resto de roupa limpa pra pista,
As unhas cravam a cabeça suada
E coxas cruzam-se
em espremidos gemidos.

Todos os desaparecidos e desfalcados
da cidade reunidos,
Em meio a plásticos da bebida.
Mas não há nada pra se dizer
a corpos que só se movem.

Ninguém atrás de romance,
Todos rezando
pelo grande desempenho do seu papel
Descartável e cheio de merda.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

I miss you.




Nas lágrimas do mundo, onde os dedos varrem pequenas e grandes tristezas,
foi-se o tempo em que a pureza branda reinava plena,
foi-se embora a confiança que se tinha.
Ninguém mais ouve os choros da criança, aquela mestra sonhadora preenchida de coragem.
Ah deus, como eu sinto minha falta.

Restaram os gritos abafados, enrolados à cama vazia.
Foi-se a cantiga aconchegante daquela infância borrada de lembranças.
Papai está num canto mudo, enquanto mamãe está tentando partir.
Eu só sorria entre os berreiros transformados em carícias.
Ah deus, como eu sinto a minha falta.

Eu corri caindo, eu corri tanto
Naveguei por todos os céus, e as suas cores indecifráveis
A rajada de fogo ferindo o peito de gelo, lá estava o desamor deles
Lá eu estava... em meio a fome e o desejo de ser feliz.
Era lá que eles estavam: cemitério de vida e construção.
Ninguém mais ouve, o quanto eu sinto a falta de vocês.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Se ele não vem



Já são 5 horas da manhã e
hoje o dia não será de sol.
Tão deitada e sem dormir, a espera do homem
Ao lado da madeira mal pintada da janela
Frouxa toda, rangendo feito minha cama
durante o sexo.

Me fecho das saídas,
Só ouço o vento e a chuva.
Sussurraram a noite toda atrás de meu lóbulo
Lambendo carícias até meu tímpano.

Se meu homem não vem,
Se ele não me tem
Possuída já estou,
há sensação de apreciamento
De tanto vento e água
escorridos para entre as pernas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Dúvida


Corpos calejados
Com suas mãos duras de pele grossa
Pés enraizados, pisando cacos
Pisando vidros.

Sou eu.
É o passado,
Me encolhendo em mísero temor.
Não confio há anos
Por que me falastes de amor?

Tanta enfermidade
Não curado o dissabor
Perdida a caridade de quem
Dá, apenas dá
Cansado da falta de reciprocidade.

De em diante, nem sei.
Precipícios de romance
São aconchegantes
Para nos atirarmos até morrer.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Espera


Eu e tu estamos quebrados e separados, vítimas de peças dos próprios corações.
Agora somos seres inseguros que se calam a todo custo, não olhamos nos olhos e praticamos a covardia.

Emudecida, levo tempo em demasia para formular uma única frase. Enquanto mocinhas choram a desabar por não serem amadas, eu choro por que queria amar mais.
Minto, amo demais, choro por não amar certo.

Te espero, através da eternidade por um reencontro fantasma.
Nem sabes como eu chorei e sofri ao relento, sentindo-me só e sendo protegida por tantos braços. Pois era no teu abraço que existia conforto.

Fostes meu amor no molde errado e desorientado, mas fostes grande. És.
Se pensas que é injustiça, injustiçados somos, amando tanto quanto, com toda a diferença do querer.

Não encaixamos, feito botas de couro em pés inchados.
Mas na esperança que guardo, ficamos indefinidamente em uma forma, nos moldando até um dia nos suportarmos.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sorrio


Eu preciso de uma música, só agora.
Suave, prazerosa, como o arrepio na minha nuca.
Eu não quero saber de letras,
Só vozes, só melodia.
Eu não me importo com dizeres, com o que dizes
Eu enxergo todas as linhas, eu tenho a maior visão do mundo.
Eu sinto.
Eu não compreendo.
Argumentos? Pra que preciso deles?
Tão mais fácil só ser levada, me deixe ser levada.
Estou mais perto do paraíso do que nunca.
Eu.
Eu.
Eu sei.

sábado, 31 de julho de 2010

Pêndulo




Eu estou correndo em sonhos
Enquanto minha camisola cor de pêssego escorrega.
Há abertura entre seios cheios de carne
E lençóis invisíveis que me protegem.

E nada chega perto de um sentimento familiar
Que em outrora cortou a respiração
Em plena planície de frescor.

Não esquecido, nem aquecido
É aquele que permanece
Em passado,
Juntado aos pensamentos dos sonos.

Só na manhã
Em plena janela que avista prédios cinzas,
Acordo.
Enquanto lembro mais a voz
Que pendeu meu sombreamento.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cega


As palmas e os sons enlouquecendo,
O ritmo que persegue meu rabo de saia
num giro de pomba arrepia os pelos.
E meus seios já intumescidos não te reconhecem na vala.

Tua boca, toda
Me voltas e me tragas como um último sopro de vida.
Deixa meus passos errantes,
Iguais ao meu rubor que intimidou-se de seu olhar.

Na dança das batidas eu mais caio,
e já cega das luzes...
minha frente só sente e chora mais a alegria
de uma esperança de te ver cantar.

Mover as pernas e braços
Em todas as direções, sem enxergar-te
Tua voz é suficiente para embalar e sentir-te.
Eis que já decorei tua pessoa,
Feito a recordação que me fincas desde sempre
No vento.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Mentiras



A muito mergulhei em pranto
Tanto.

Por hora, Cansei as lástimas
e o invento de verdades.

Nunca me vitimei,
Só sonhei a invenção de paz.

Meu pai crucifiquei...
Dor pesante a menos.

Não é má quem eles querem
Nem há voz que os superem.

O meu único pertence
É a leveza da consciência.

Bravo! Meus ideais!
Viva a justiça dos puros.

Eu encontro tanto amor
Que a distorção não me afeta mais.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

crua


A noite me protegeu nos braços dele.

Eu e ele banhados pela leve luz enevoada da lua,

tão suave e líquida, purificando nossas almas

para serem perdoadas no último segundo.


Somos filhos dessa noite

que esconde a sujeira das ruas,

as marcas de meu corpo e nossas caras de gozo.

Todo o descontrole e destreza nos nossos dedos

encobertos por um segredo noturno que diverte os amantes.



Pico




O que é verdade ou não
ele não percebe.
Fica por fora falando o que não deve,
falou por intuição.

Ele não é mais daqui
e eu fugi de mim.
Procurei nos cantos escusos corpo novo
lembrando ele pegando fogo.

Com a incompatibilidade de nossas brigas
atravanquei os dias dele.
Ele me feriu sem ter saída...
não foi culpa, foi brincadeira da mente.

No rebanho de estrelas
em que me congelo
nao há cadente que me conceda
um alívio para o meu ego.

A nossa finalização
será uma grande dramatização:
No pico de uma montanha
estamos de costa um para o outro
lá se dá nossa última barganha
então nos jogamos sem lembrar mais de algum rosto.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cama


Edredom enrolado, ah o meu lençol
travesseiros amassados
cabelo embaraçado
Sempre quis rimar a palavra rouxinol.

Sou espreguiçadeira
matuto a noite
dei leveza que nem poeira
a escuridão foi a fonte.

Esqueci o que é escrever
afinal adotei a horizontalidade
Sexo, dormir e até comer
onde foi parar a sagaz idade?

Deitei, ronquei
Meu sono foi breve demais
Tão quanto foi eternidade.