quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tão casual


Tem um cara que eu chamo toda a semana pra passar lá em casa, por que eu não aguento mais do que uma semana sem sexo.
Da mesma forma que eu uso o corpo dele, ele se diverte comigo.
E gritar e gemer perto da janela é o mais incrível, pensando em todos os vizinhos atônitos de um jeito desprezível.

Atiro as chaves da sacada e o recebo enrolada numa toalha... alguns hábitos já tornaram-se corriqueiros.
Vamos até a cozinha para beber uma das garrafinhas d'água geladíssimas, damos alguns amassos em cima da mesa e eu ainda tento segurar a toalha.

Mas prefiro o bom e velho quarto confortável, onde já passei por vários causos.
Não gosto do sexo mais sexy, prefiro aquele que um abraço e cócegas me fazem rir e abraçar ainda mais.
Ah! Implorar por piedade já é rotina... Como sofro na cama! Sempre acabo presa por algemas e hematomas por todos os lados.
E ele ri da minha cara quando eu mostro os estragos... "Quem mandou ser tão branca e sensível?"

Me trazer ao gozo é tão fácil que acabo repetindo a dose dúzias de vezes.
E a cara de prazer dele me satisfaz pois ele não cansa de me satisfazer.
Depois do sexo, dormimos juntos, abraçados.
Coisa rara hoje em dia.

Algum tempo se passa, o frio chega, a gente se tapa... E o ciclo de risadas começa de novo e naquele momento ele me basta.

Adoro ele andando nu pelos corredores e o jeito que ele se olha no espelho.
Ele virou o tipo perfeito: na rua um amigo, na cama um parceiro.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Entre vidraças


Sentada na cama enxergo o meu vizinho,
só uma vidraça me cobre.
Então uma peça de roupa tiro
e a janela do vizinho parece tão enorme.

Há velas no meu quarto
iluminando a pele nua,
há só os cabelos curtos batendo na nuca
enquanto meu vizinho disvirgina o seu tato.

A penúmbra da noite
aquece a minha palidez
e o músculo dele é pura rigidez.
Tudo se faz à nossa fronte.

Algo me diz que isso é puro perigo,
mas em casa sobre um teto, um abrigo;
eu me abro de toda,
eu bebo até ficar zonza.

O olhar concentrado dele desvia
e outra luz da casa acende.
É a esposa e a filha
que chegaram mais cedo infelizmente.

Eu deço as escadas para o jantar
e depois farei o dever do colégio.
Tudo assim que tirar a malícia do ar
e a vontade de ir pro inferno.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Eu sei que alguém entende




Pensei só coisas descartáveis na madrugada. Tudo bem, há aqueles que pensam que minha vida só é feita de coisas vazias mesmo.
Descobri que a palavra "opa", além de saudação, também significa "avô nas famílias germâncias".
Mudou a minha vida.

Há aqueles que pensam que eu penso ser onipotente. Ó, tão mesquinha eu sou, então não entendo como podem pensar algo assim de mim! Estou mais para ridícula e pão-dura isso sim.

Talvez digam que eu vivo de mesmices. É eu gosto de repetir o que me faz bem.
Mas nem tudo está perdido, as crianças que eu seguro no colo em uma creche carente já me dão roupagem nova e fome de fazer.

Infelizmente eu sonho mais do que faço, sou própria dos sonhos.
No inconsciente mais ciente de todos, um brilho ofusca o ato, causando um asco profundo quando eu percebo que tudo não passou de ilusão.

Eu fico quieta nas horas erradas, eu falo demais quando não devo.
Eu confundi algumas pessoas e eu vejo que não era esse o meu desejo.
Só queria que entendesse que sei calar quando é preciso.

Perdi oportunidades e amizades numa ingenuidade de pensar que o mundo ainda escolhia os especiais. Só depois vi que especial é aquele que consegue encontrar alguém identificável num mundinho controverso a todas as espectativas severas.

Num momento só, após escrever o dito, lembro dos meus inimigos...
E talvez o que eu falei, pensei, foram só respostas ao que me julgou precocemente, jogando as toalhas na minha cara sem nem o sinal ter tocado.

Relato de uma noite sóbria


Se não fosse a falta de grana, eu sairia com mais freqüencia nestas noites de porto alegre. Já andei por muitos bares por ai, e sempre ganhando alguma cerveja de graça de algum cara tentando ser engraçado ou algum amigo boa praça.

Eis que nesse último sábado compareço a uma festa no madrigal, famoso putero da farrapos, onde até a entrada é por trás... Digo!

Hm... não vi nada de tão escabroso e surpreendente. A esquina da rua de trás, sempre foi tomada por travestis e mulheres, ou só travestis mesmo, que eu costumava visitar de carro nas madrugadas chatas e entediantes da cidade. Eis que via algum(a) negão(ona) com uma bunda tão redondamente grande quanto a da mulher melância. Meus amigos gays e eu gritávamos: BEYÓÓÓÓÓNCEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!

No entanto, havia apenas um travesti na esquina, nesse sábado. Pensei que o resto deveria estar dentro do putero.

Após meia hora de uma grande fila, eu entro na brilhantina da noite e logo avisto os famosos "queijinhos". Há tempos atrás, tinha dançado nesses acessórios de palco enlouquecidamente com minhas amigas, algumas fotos comprovam. Na ocasião tiveram aqueles que pediram mais e outros que acharam o show fraco... Mas então, tive a desculpa de estar apenas brincando e de estar bêbada. Raras vezes me deparei com bêbadas realmente sexys.

O engraçado é que no sábado eu não estava nada bêbada e nada sexy, o meu vestido ia quase até o chão. Eu não estava me importando com ninguém naquela noite na verdade, e vesti o que eu vi primeiro no armário... A infelicidade foi quando um cara, que eu pego de vez em quando, veio me dizer que era a pior roupa que ele já tinha me visto usar. Tá, foda-se... Mas não me olhei da mesma forma no espelho no resto da noite.

E comecei a beber todas as cervejas que eu via alguém segurando.

Dancei com meus gays, beijei algum, ri das conhecidas chapadas, me perdi umas 5 vezes entre uma pista e outra. O mais difícil era levantar o vestido até o meio das coxas pra dançar no pau de puta e ter cordenação para rebolar até o chão e agarrar aquele que tivesse dançando junto(e o agarrar era pra não cair viu?).

Num momento meio cansada/zonza, fui para pista menor com uma amiga... sentei num sofá bem confortável... quando de repente começa a tocar EDITH PIÁF, La vie en rose!
NÃÃÃÃÃO.
Eu não sabia se ria ou chorava, minha amiga e eu nos olhávamos incrédulas do fato e ouviamos aquela versão remixada... Enquanto as imagens de mulheres peladas em todas as paredes teimavam em fazer caras vulgares e biquinhos para nós.

Foi o fim da picada... Se bem que picas lá dentro não faltaram, cada vez que passava uma mulher gostosa, eu desconfiava que não era beeem uma mulher. ENFIM.

Teve momentos super gracinhas também, como na hora em que um vô de uns 82 anos ficou rindo pra mim com uma lindíssima dentadura e dando uma piscadinha... além de mostrar o bolso com dinheiro. MEO DEOS

Naquele fim de noite decadente, sentei na beira do palco e fiquei assistindo o showzinho de um casal quase se comendo. Depois, abracei meu amigo(que eu tinha conhecido na mesma noite) e fomos embora de táxi o mais rápido possível.

Uma amiga ficou mais algum tempo e depois foi embora a pé pela farrapos. Ela descobriu que está disperdiçando talento, 15 carros pararam querendo fazer um "programa"...

HAHAHA
Fim.

sábado, 17 de maio de 2008

letras pautadas


Voltando lá para meados dos anos 80, mal lembro das pirraças de guri moleque. Na rua eu não tinha tempo de ficar pensando por muito tempo o que fazer. Quando a boca tremelicava pra dizer algo, eu já deveria ter ido e voltado com alguma coisa de alguém. Numa ignorância profunda, nem tinha inveja dos guris mais arrumados do que eu, era como se fosse assim, fosse pra ser assim. Ponto.

A única coisa que tinha vontade é de passar as mãos nas canelas de algumas tias que passavam pontualmente no meu ponto de coleta. Não fazia nada, só olhava; ou perderia o ponto de certo com algum 'policia' me expulsando. Eu também tinha outras sensações, talvez mais, talvez menos importantes... Como a raiva por uma mulher velha e gorda que me olhava com um ar de caridade mas nunca me dava uma moedinha sequer.

Morador de rua sem conhecer quase nenhuma bosta desse mundo escroto. Eu só via os mesmos muros cinzas de sempre com pichações diferentes a cada dia. Um dia quis pichar, mas os guris mais velhos riram da minha cara por que eu não sabia escrever nenhuma letra. Não lia também, e não entendia o que eles escreviam. Desenhei uma faca bem pontuda apontando pro barraco de um dos muleques que tavam rindo.

Ele não gostou e me expulsou do ponto. Depois disso eu passei a frequentar ruas mais distantes e os bairros próximos... Não que fossem coisa melhor do que antes, mas a pivetada não me olhava de cara torta e nem ria de mim. Como não sabiam onde eu morava, assaltei pela primeira vez a mão armada (faca) numa ruela do bairro vizinho. Não deu muito certo por que a 'dona' fez O escândalo e começou a me bater com o guarda-chuva que carregava.

Seria triste pensar numa vida tão medíocre. Não tinha bem 15 anos e fiz a única coisa que prestou até hoje.. conhecer Suzaninha. Tá, teve mais uma coisa que eu fiz de bom, mas a Suzaninha era boa demais pra eu tentar acreditar. Ela era filha do dono de um boteco meia boca da zona oeste, onde eu gastava algum trocado que eu ganhava guardando carro. Acho que consegui pensar em palavras bonitas que hoje seriam ridículas. Mas aquela guria branquela, magrinha, cheia de sardas e sempre gentil conseguiu tirar palavras timidamente educadas de mim. Ela não era do tipo que deveria estar ali, tanto que não ficou, ela acabou viajando pro sudeste morar com uma tia pra estudar. De despedida me deu um beijo, meu primeiro.

Sozinho e pensando nela, eu vadiei e virei bandidinho de quinta categoria e toda hora acabava parando numa delegacia... O problema foi uma bomba que estourou na minha mão, me confundiram com um cara que tinha estuprado e matado um guria que eu mesmo conhecia.

A Suzaninha voltou e me procurou. E eu burro, preso.

Ela me deu um chingão mas depois que eu expliquei o ocorrido ela acreditou em mim, as mulheres sempre acabam acreditando. E então eu fiz a segunda coisa certa na minha vida. Ela resolveu me ajudar a estudar, alguns anos antes da cadeis eu tinha aprendido mal mal a escrever e ler, então não foi tão dificil.
Hoje é o meu último dia de pena, depois de 6 anos e alguns meses, a Suzaninha deixou de me ver faz uns 3 anos, mas eu continuei lendo e depois escrevendo também. Não segurei a mulher, não escrevo tão bem quanto gostaria, mas pelo menos não vão mais rir por eu não saber escrever letras.


domingo, 11 de maio de 2008

Liberta a voz


Chora a pedra
dureza se vai.
Leveza, enfim...

Racha a casca, a cara
o passáro me bica
irrita
estou bem, enfim.

Arrastada pela correnteza
água congela, a água
estou limpa, enfim.

Formigas atacam,
me mordem,
eu choro então.
E eu sinto novamente.

Pode ter sido uma chuva tremenda,
um raio na cabeça,
uma morte violenta.

Eu peguei o pobre poeta e o comi...
Fui egoísta, mas só assim eu poderia ressucitar.

Tilintin


Tudo parece uma percepção sólida e vaga,
pontos certos e tantos outros borrados.
Encantadora.
Eu enxergava as cores de forma lúcida,
embriagavam-me os brilhos
e tudo era tão lindo.

Fui uma criança com uma só visão.
E então, via todas as coisas do mundo.
Estando inseguro, pousava em pétalas no escuro
enquanto alguma fada invejosa
iluminava um ponto perdido.

Segundos viraram trambolhos da memória,
ocuparam parte de minha vida
e ofuscando uma seriedade
abrem um sorriso em meu rosto.

Hoje, se a beleza
parece-me tão fragilmente desmontada,
culpo os olhos míopes.
De um jeito cega levemente,
parei de ver nitidamente
e nada parece como antes.

O que tinha gosto de felicidade,
hoje tem gosto de açúcar
e apesar de sorrir o sorriso mais aberto,
quero chorar e sentir a mão de mãe
acariciar meus cabelos e peito,
como na primeira vez que lembro não lembrar mais.

sábado, 3 de maio de 2008

Trocas



Tu tens temporária tenacidade
tenta-me, tu tentas.
Timidez tirada, trocada e torta.
Tão teimoso.

.
Teu timbre testemunha toda tua testosterona
tocando e teclando teclas, testa, telas.
Tanta ternura tornou-se terremotos tênues,
tua tolerância tolhida, todos os talos.
Tempo tortuoso torrado. Turbilhões!
tremendo tresloucado, tendo tremiliques
.
Transmutou-se...
.
Tu tirano trouxe-me toda tristeza.
traguei tanta tragédia, tanto tango
tamanha tolisse.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

elas não entendem-se


Estou raivosa e tremiliquenta.
Quero encerrar o papo,
mas eu falo, eu ajo
e comando o ato.
Eu reclamo a tua ostenta.

Eu fico e fiquei
nervosa e raivosa por demais.
Dei uma de satanás
e de resposta como fuga, eu me icendiei.

Aos berros e choro escorrido
gesticulei por trás do espelho rompido,
maquinei frases
manipulei o inexistente finito.

Sempre espera-se a vida tradicional...
afinal, gostam de redomas.
Mas eu durmo da forma errada,
eu sou passional.

Ainda finjo que acredito
no meu eu sozinho depois.
Uma liberdade que ela sobriamente me impôs
com o gosto de todos, o mais insípido.

Eu dissimulo
não é?
e ela têm medo da fé
e de mim no mundo.

Eu fujo,
eu sumo.
Arrumo os trapos
e com o pé na rua
faço tudo.
Não volto.
Até viro puta.