quinta-feira, 13 de março de 2008

Cartelas de adesivos e playstations




Dias atrás sonhei com um ex namorado da minha mãe.

Um sujeito chamado Leandro, realmente bonito apesar do cabelo levemente brega.
No pricípio minha mãe e ele trabalhavam juntos; ele adolescente de 18 anos contando de seus namoricos da época, minha mãe com 33 anos contando de seu casamento problemático.
Eu nasci e 3 anos depois o casamento estava acabado.
E eis a surpresa! O jovem rapaz juntou-se a familia para servir como um padrasto fora dos padrões.

Não tenho muitas lembranças desse tempo, apenas poucas e boas.
Ele era como um pai que se comportava como um irmão e brincava de cabana bagunçando a casa toda.
De todos os tantos presentes que ele me deu, o que mais fixou-se em minha memória, é uma cartela com adesivos de fadas. Não eram desenhos da disney tradicionais, mas desenhos quase caseiros e bem coloridos.
Foi um dos presentes mais lindos que já recebi.
E o natal mais mágico e inesquecível, foi aquele em que Leandro vestiu-se de Papai Noel e me fez cócegas na barriga. Lembro que ganhei alguma barbie com um vestido rosa rodado, uma princesa.
Recordo de uma tarde em que fui para o quarto de minha mãe e ele estava dormindo, ocupando quase toda a cama, tapado com um cobertor amarelo e marrom. Eu deitei do lado dele e pensei: "Nossa, ele é grande!"

Em agosto de 97, ele saiu do nosso apartamento, foi embora.
Disseram-me algo sobre viajar, passar um tempo longe.
No meu aniversário de 8 anos, outubro daquele ano, Lelé(como eu costumava chama-lo) trouxe-me um video-game playstation de presente. Eu tenho ele guardado no meu armário até hoje.
Eu acho que foi assim que terminou a 'nossa história', não sei o que ocorreu depois, apaguei as lembranças.

Uma mulher e um homem que se amam, recebem dedos apontados e coxixos por tras das portas e janelas. Será que 15 anos separando 2 vidas, podem acabar com o laço definitivamente entre elas?
Aos 24 anos e meio, ele saiu de nossas vidas e eu nunca mais o vi. Nunca mais.
Minha mãe adoeceu e chorou por 1 ano. E eu sei que ela faria tudo de novo. Por que uma paixão verdadeira nos faz saber que em algum momento da vida, nós fomos realmente felizes.

Alguns anos atrás ele procurou minha mãe... Que não o atendeu.
Ficamos sabendo que ele acabou casando-se e tendo 2 filhos, a mais velha, com em torno de 7 anos e o sexo e idade do filho mais novo não sabemos.
Eu imagino ele como um bom pai, ele era tão preocupado comigo(disse a minha mãe), querendo um bom futuro e uma pessoa firme brotando de mim.

Ontem a noite, 11 anos após a separação de nossas vidas, ele apita o porteiro de nosso edifício tarde na noite. minha mãe pergunta o que ele quer.
"Conversar."
Minhas mãe responde: "Eu acho melhor não."
Ele vira de costas, desliga o alarme do carro e vai embora dirigindo.

Hoje minha mãe me conta sobre o ocorrido.
Eu sento na frente dela sem acreditar que eu perdi a oportunidade de ver o rosto dele uma última vez.
Eu então choro. Envergonhadamente.
E penso... Será que ele lembra de mim ou pensa como eu estou hoje?
Como uma lembrança tão antiga pode desestruturar a minha cabeça tão frustantemente?


"Mãe, tu lembra que eu te disse que sonhei com o Lelé? Ele não saiu da minha cabeça nesses últimos dias! Ele não saia!! Por que as minhas intuições e pressentimentos nunca me ajudam?
Mãe, por que tu não falou com ele??? Eu sinto que tu precisava fazer isso."

"Eu preferi que ele lembrasse de mim como eu era a 10 anos atrás. A mulher que ele amou, vaidosa e bonita. Foi vergonha de ter envelhecido e não ter tido forças contra isso."



"Mãe, eu sinto orgulho de ti."