quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Eu, o velho e a chuva


Passou-se o natal.

Uns amando, outros odiando.

O lado pessimista da festividade, serve de pele apenas para os que não encontraram as pessoas certas para festejar e no final da noite ficarem bêbadas por terem passado um pouco da dose simples de champanhe.
Nem pretendia escrever sobre a ceia familiar... isso é apenas um breve comentário, visto a falação do natal 2007: o mais sangrento desta última década!

Como em todos os anos de minha curta vida, passei longas horas na estrada escaldante rio-grandensce para chegar na cidade do interior onde parte da familia ainda mora.
O local de desembarque familiar foi a antiguíssima casa do sogro de meu pai, um senhor muito surdo, magro e teimoso ao limite de estourar a paciência alheia.

É véspera de vestibular... ao menos para mim. Estou tentando decorar a história do mundo e do brasil.. já que esqueci deste passado formidoso e cansativo ao longo desse ano.
Tentei tomar juízo e estudar o feriado inteiro.
Sei que minhas amigas ficaram a metros de distância de qualquer livro; pelo menos a minha cabeça ficou sem pesos rochosos sobre ela para serem carregados futuramente.

Mas ah, que sono naquela tarde de calor infernal. Após o almoço, sempre cai sobre mim a maldição da cesta. Um belo ronco após a barriga crescer de tanto comer. O pior de tudo era meu pai que não permitiria preguiças a esse ponto das festividades faltando pouco mais de 15 dias para as provas decisivas. Claro que o sentimento de culpa foi muito grande e firmei os olhos sobre a página.
O problema era a quase falta de ar, ou o abrangente ar morno e carregado que de tão gordo não passava por entre as narinas ou garganta seca.

Era calor, era sono. Não conseguia concentrar-me.
Foi afrontando-me que meu pensamento esvaiu-se de mim e fugiu para nem sei onde.
Minutos passavam e eu nem dava-me conta, e após horas de memória terem se passado, percebo que apenas 16 minutos diferenciava o passado do presente.

Distraída, acabei pensando em algo. Não propositalmente, foi despretenciosamente.
"E se faltasse luz?"
Ah.. mas ainda sim teria a luz do sol que iluminava fortemente a sala em que eu encontrava-me.
Eu olhei através da grande janela a minha direita e fixei o olhar em uma das quatro parreiras que se encontrava no jardim, formando um teto de folhas e uvas.
"E se chovesse? A ponto de ficar uma escuridão negra sobre esta casa e eu não enxergar absolutamente nada... afinal, eu já sou levemente míope. "

Fiquei imaginando a cena da tempestade e da falta de luz. Eu poderia dormir sossegadamente e sem culpa, afinal o que eu poderia fazer?
O velho passava por mim várias e várias vezes. Sempre observando-me com uma cara de desconfiado, como se eu estivesse tramando alguma coisa...

Que tédio.

Então em questão de segundos, após a primeira brisa refrescante de horas a fio... Uma chuva absurdamente forte varria qualquer vestígio de sujeira da cidade inteira.
Meus olhos encontravam-se arregalados e surpresos.
"Teria eu tanta intuição?"
Então trovões e relâmpagos começaram a acordar-me cada vez mais. Agora já não eram pingos que caiam, e sim pedras e mais pedras.

Bum!
Acabou a luz .
Neste ponto a minha boca já estava entreaberta e muito abismada.
Conformada com a estranha coencidência, resolvi deitar no sofá ao lado da cadeira em que me encontrava.
"Aaaah que sono, que coisa bom deitar e dormir.."

Quase num susto, abro os olhos e vejo o velho parado, olhando-me.
Ele na sua magreza e costas muito curvadas, mas ainda demonstrando seu porte de homem alto e saudável na juventude, ficou parado a pouco mais de 1 metro de minha pessoa.
O olhar em seu rosto era de indignação e certeza.
Desviou-se para a janela e olhou as parreiras, as pedras provavelmente judiariam de suas folhas.
Saiu vagarosamente em direção da cozinha...

Ele tinha mais certeza de minha culpa do que eu de minha coencidência.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Estranheza


Vivi.


E explicar isso parece-me tão dificil.
Não poetizar.. e só falar, digitar. Que seja.
Resolvi usar e abusar da tática de desabafo.
Mesmo sem sofrer ou penar por algo que necessite ser regurgitado para a minha boca.
Eu ando vendo tudo tão bem, cada fragmento e detalhe roído.. corroído pela minha visão pobre de mundo.

É conformidade totalmente inconformada. Saber da existência e seu motivo para depois lutar contra ele.
Não corro, nem exercito-me.
Eu vôo.
Plano na cabeça dos inseguros e comuns. Sentindo.
Não sei explicar sentimento, nem preciso falar dele. Eu sinto.
Faço-me toda assim: inocente. Não provei de raiva, ódio. Muito menos ausência, os torturados disseram-me para ficar longe dela.

Guardei toda a minha sensualidade em bolinhas de cristal dentro de meus seios, minha entidade mais preciosa... ansiosa esperando a libertação para um corpo desconhecido agrupar-se em sua companhia.
Amei.
Todos.
Em alguma forma de amor, cada ser colaborou em vida.
Mas amei aquele tão 'especial' que tranca vias respiratórias e bombeia freneticamente o sangue para o oculto.
Dexei de entender o que entendo e nem sei mais de amar.
Já que nem sei nada de mais.
Escrevo perguntando a respeito de minhas respostas mal dadas anteriormente.
Fui tão incoerente?
.
.
.
Vivi e por isso toda essa confusão de estranhezas.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Arrepio


E num tempo quase vazio
em um espaço quase cheio.
Vagar.
Papéis ao redor,
tanta bagunça a examinar-me.

O tempo mudou de salto.
Efêmero.
Eu fiquei parado aqui,
eu continuei.

Era escaldante lá fora.
Minha distração não notou
a vasta água nova a cair
e a pele a tornar-se crespa.

Peguei o frio,
o cheiro de terra
e o som "tuc tuc tuc" repetitivo.

Pingos raiando.
Olhos fechados.
Mandíbula cerrada.
O que resta é o que eleva-me

Só leva.