quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A história de Sophia [2]


Muitos já viram ou ouviram falar sobre o filme “Aos 13”, onde adolescentes se perdem e depois tentam com muita dificuldade se achar entre um quarto bagunçado. Meu momento de perdição coincidiu com o abordado no filme, da mesma forma que perdi bastante tempo para uma luz no fim do túnel aparecer. Não me droguei nem virei promíscua. Eu virei um vazio contínuo que me matava e não queria ir embora. Eu perdi a única amiga que tinha, eu vi minha família se desfazer, eu tive problemas com notas do colégio e me meti em encrencas. Não me chamo de típica adolescente por que adolescentes são os seres mais instáveis e mutáveis que já vi, são algo de total atípico.

Uma das coisas que eu mais queria era deixar de usar óculos. Eles me incomodavam por demais. Com 13 anos eu já tinha deixado de lado as malditas cordinhas, afinal não gostaria de ser a gozação de jovens sedentos por atos maléficos. Eu me achava muito feia com aqueles aros estranhos que faziam o meu nariz coçar, eu sabia que nenhum guri queria me beijar por causa daqueles aros. Então eu comecei a ir sem eles para as festinhas do colégio, e eu nunca soube se algum guri me olhou com alguma segunda intenção, até por que eu não enxergava a um palmo à minha frente. Esse trauma foi grande, apesar de muitos acharem engraçado, e só aos 20 anos eu comecei a gostar de usar óculos. Não, eu não passei como uma cega durante todo esse tempo; aos 14 anos ganhei minhas primeiras lentes de contato e fui em várias festas de gala com toda a confiança que eu queria ter. Lembro que os caras achavam que eu era mais velha e não acreditavam quando eu dizia ser tão nova. Achava aquilo o máximo e nem percebia que eu poderia me aproveitar da situação, eu realmente era ingênua.

Desde a primeira série eu costumava gostar de alguém, às vezes um por dia ou por semana... Mas no ano das lentes de contato, eu me encantei pela primeira vez e recebi a primeira promessa de um telefonema no dia seguinte. Foi em uma festa de alguns amigos da minha mãe e eu era a única “novinha” presente. Claro que todos os homens olhavam muito para a minha pessoa, cabelos presos em um coque, um vestido verde água sem mangas e as pernas de fora. O papo da festa foi a surpresa de descobrirem a minha idade, chegava a me irritar essa importância de números, NÚMEROS. Então quando fui pegar um copo de refrigerante, acabei sendo grossa com um cara que me oferecia uma cerveja. Voltei à sala principal, sentei de cara amarrada e o tal cara sentou do lado perguntando se eu tava braba. Disse que não, que era só uma dor de cabeça passageira.

Ele tinha 21 anos, eu 14. O nome dele é Paulo e descobri que meu pai era chefe dele. O interessante é que foi uma tremenda coincidência e ele não conhecia quase ninguém da festa, muito menos a minha mãe, separada a muitos anos, que tava ali quase de penetra. Falando na minha mãe, ela ficou bêbada e eu tive que ir embora... deixando pra trás um número de telefone e um rosto na cabeça.
Viajei no dia seguinte sem receber o telefonema e passei quase um mês com um recorte da revista mensal da empresa onde meu pai trabalhava. Ali mostrava os estagiários novatos, entre eles, Paulo.

Pena que ele era muito mais velho e só tava brincando comigo. Resolvi fazer charme e esnobar. Eram lindas as caras que ele fazia quando eu caprichava na produção e fingia não enxerga-lo. Meses depois eu o vi em uma festa e dancei até quase desmaiar pensando que assim mostrava alguma satisfação. Ele não agüentou até o fim e me pegou pela cintura cochichando no ouvido por que eu tava fazendo aquilo com ele. Naquela noite aprendi a dançar em conjunto do corpo de um cara chamado Paulo, dei um tchau e virei as costas.

Não vi mais ele, deve ter sido demitido. Pra falar a verdade, vi-o sim... Esse ano, numa rua do centro.
Ele engordou muito.