Até certa idade permaneci fechada, num casulo protetor de tombos.
Assim como a maioria, que talvez permaneça desta maneira por conveniência em toda sua existência.
Eu era o padrão, a cor bege que não agride os olhos sorrateiros e forasteiros.
Assim, apagada.
Tentando forçar meus pensamentos a obedecerem os lados "tendiosos" da vida.
Retirei os óculos , virei loira, usei as roupas da moda e conquistei a todos de acordo com o comprimento de minhas vestimentas.
Eu era como o "todo mundo" e eu atraía esse amontoado de gente.
Eu atraía tudo! Eram pobres de espírito e cabeças vazias a me rodearem como corvos famintos.
Já que eu era igual a todos e quase todos eram inúteis, descobri que definitivamente eu deveria ser uma quase inútil como quase todos.
Quem eu pensava ser?
Foi torturante mudar.
Cadê aqueles olhares devastadores que me perseguiam em qualquer avenida?
Olhei o espelho e vi uma guria como eu, que seria de qualquer guri.
Peguei a navalha sob o bidê, e com ela retirei todo o peso da comodidade e do padrão estético estampado no corpo.
Sinto fios arrepiados roçarem a pele nua de minha nuca repetidamente. Fios cada vez mais curtos!
Eles já são escuros e discretos nesse ponto; ainda sim eles chamam mais atenção que anteriormente.
Eu tornei-me o filtro de cigarro, reduzindo significante o consumo de drogas legais e ilegais.
A imagem transmitida do que sou para os olhos diversos é a pré-seleção dos corações dignos e leais.
Eu atraio os meus semelhantes .
Filtrei o conservadorismo, a mesmice, a falta de expressão e o preconceito; apenas trocando de pele como uma bela serpente.